Foto: Imagem de Santo Antônio Localizada no contorno que dá entrada à cidade de Queimadas- Bahia.
O PROCESSO DE SANTO ANTÔNIO DAS QUEIMADAS ( Século XIX)
O processo, a prisão e condenação de Santo Antônio das Queimadas pela
justiça da época. é fato histórico absolutamente verídico. Apesar disso,
não foi possível aos pesquisadores encontrar elementos comprobatórios
desse episódio, em virtude de não se saber do paradeiro dos documentos
formadores desse famoso processo condenatório. Há controvérsias a
respeito: uns dizem que o julgamento se deu na extinta comarca de Água
Fria; outros, que o júri teria ocorrido em Cachoeira.
COMO SE CONTA A HISTÓRIA
Muitas crônicas foram escritas tratando deste assunto, mas todas elas
baseadas em informações orais hauridas em tradição secular. Em resumo
dizem o seguinte: D. Izabel Maria Guedes de Brito, abastada proprietária
da Fazenda "As Queimadas", tornou-se fervorosa devota de Santo Antônio
desde o dia em que uma pequena imagem de madeira, de apenas 45 cm de
altura, apareceu debaixo de uma árvore que alguns dizem ter sido uma
quixabeira, no alto de uma colina que domina a paisagem de um extenso
trecho do vale do Itapicuru. A imagem, recolhida com todo carinho,
desapareceu por três vezes consecutivas do nicho da piedosa senhora para
reaparecer sempre no mesmo lugar onde fora encontrada. Nesse vai e vem,
diz a lenda que por lá passaram uns missionários capuchinhos que, ao
tomarem conhecimento do estranho fato- tido e havido por milagre-
aconselharam que no local exato do sagrado aparecimento deveria ser
construída uma igreja consagrada ao santo e que a localidade, dali por
diante, o teria como seu padroeiro e passaria a se chamar Santo Antônio
das Queimadas.
Assim foi feito. A igreja foi construída e se tornou
alvo de romarias e peregrinações dos sertanejos das redondezas que
faziam e pagavam promessas ao santo milagroso. Tudo corria ás mol
maravilhas sob a proteção de Santo Antônio. Um povoado começa a se
formar à margem direita do rio Itapicuru. Pouco a pouco, uma casinha
hoje, outra amanhã, o lugarzinho ia crescendo com a devoção e se
animando com o pouso e passagem de vaqueiros e tropeiros que demandavam
os sertões distantes de Jacobina e do São Francisco. E foi indo assim
até que um dia - cuja data ninguém sabe mais- um crime de morte
aconteceu e mudou por completo toda a face da história.
Numa noite
de louvação a Santo Antônio, um homem fora assassinado e o corpo
encontrado no adro da igreja. O crime fora atribuído a um escravo que
havia fugido sem que jamais se soubesse seu paradeiro.
Quando isso
aconteceu, Santo Antônio já se achava na posse de todos os bens que lhe
foram legados por D. Izabel Maria Guedes de Brito. As terras, a gadaria,
os escravos, tosso esse cabedal já pertencia ao santo e era
administrado pela freguesia de Santana do Tucano, a cuja jurisdição
eclesiástica a capela de Santo Antônio das Queimadas estava subordinada.
Por uma drástica lei do período colonial que então vigorava e que era
muito respeitada naqueles sertões, o senhor era responsável pelos
delitos e danos causados por seus escravos, caso estes não fossem
entregues à ação da justiça.
Po0r força dessa lei, Santo Antônio, que era o senhor, foi responsabilizado pelo crime cometido pelo seus escravo foragido.
A PRISÃO DE SANTO ANTÔNIO
Impossibilitado de apresentar o verdadeiro criminoso, Santo Antônio foi
preso e conduzido amarrado no lombo de um burro para ser julgado em
Àgua Fria, então cabeça de Comarca.
De nada valeram os rogos, as
preces, as promessas, as procissões, as ameaças dos moradores de
queimadas que tentaram reagir, mas que nada puderam fazer contra os
poderosos agentes da justiça. Só lhes restaram as imprecações contra os
duros homens da lei sobre os quais haveraim de cair os castigos dos
céus.
Santo Antônio venceu uma distância de 160 km de estradas até
ser encarcerado no quarto da forca da cadeia de Água Fria, onde teria
que aguardar julgamento.
SANTO ANTÔNIO RESPONDE A JÚRI E É CONDENADO
O processo se arrastou por muito tempo. O julgamento foi longo. Santo
Antônio teve que responder a júri e, para isso, a pequena imagem foi
colocada no banco dos réus. Simbolicamente, ali estava o insigne
português.
De acordo com pesquisa feita, sabe-se que a imagem
participou, pelo menos, de duas audiências. Teve defensor e duas
testemunhas da apresentação da prisão foram ouvidas.
Proferida a
sentença, Santo Antônio foi condenado. Os seus bens, sofreram confisco e
foram levados a hasta pública ao correr do martelo, tendo sido
arrematante o ascendente do coronel Francisco de Paula Araújo Britto, de
Ihambupe.
Santo Antônio foi despojado de tudo que possuia. Não lhe restou sequer um palmo de terra em todo municipio de Queimadas.
Muito tempo depois, uma questão surgiu a propósito da posse das terras
confiscadas. O coronel Vicente Ferreira da Silva negou-se a pagar os
foros cobrados pelos herdeiros do arrematante, sob a alegação de que as
terras em causa pertenciam a Santo Antônio. Funcionaram como advogados; a
favor de Santo Antônio, o Dr. Raul Alves, e pela famóloa Britto, o Dr.
Ponciano de Oliveira. O Tribunal deu ganho de causa aos herdeiros, tendo
Santo Antônio perdido em definitivo as propriedades de que fora
possuidor. Vicente Ferreira da Silva foi condenado a pagar as custas do
processo, conforme se poderá ver
pelo teor de um documento existente no Instituto Geográfico da Bahia.
Fonte: Nonato Marques. Santo Antônio das Queimadas. pag. 93/94
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