Foto: Procissão rumo à centenária Igreja de Santo Antônio das Queimadas.
A FAZENDA E A CAPELA
À margem direita
do rio Itapicuru-açu, em terras das incomensuráveis sesmarias da Casa
da Ponte, existiam as fazendas “As Queimadas”, ambas pertencentes a D.
Isabel Maria Guedes de Brito, herdeira de imensos territórios.
A
denominação das fazendas sugere que ali se faziam grandes queimas de
caatingas para botar roçados, hábito herdado de antigos índios e
seguidos pelos colonizadores. As coivaras freqüentes acabaram por
assinalar para sempre o sítio a que dera o nome, posteriormente, ao
povoado, á freguesia, á vila, à cidade e ao município. Mas logo, que o
povoamento das fazendas começou, facilitado pelas concessões que a
proprietária fazia aos que nelas quisessem se fixar, assim que surgiu a
capela em torno da qual se foi formando o arraial, a denominação
Queimadas ganhou uma complementação, passando o lugarejo a ser conhecido
como Santo Antônio das Queimadas. O topônimo se enriqueceu com o nome
do santo que passou a fazer parte integrante da vida da localidade em
todas as fases da sua história.
A invocação a Santo Antônio não se
deu por acaso, segundo a lenda que se transmitiu de geração a geração
com a força da fé das almas simples e crédulas. Dizem que a imagem
apareceu inexplicavelmente, debaixo de uma árvore no local onde há 169
(hoje 197) anos se edificou a capelinha. A fazendeira tantas vezes a
recolhesse, como a imagem sumia do seu rico nicho de jacarandá e
reaparecia no mesmo lugar onde a encontraram pela primeira vez. O caso
foi tomado como milagre e a notícia se espalhou pela redondeza,
arrastando crentes que passavam a reverenciar o local da aparição. Não
havia mais dúvida: Santo Antônio estava a indicar que ali devia ser
construída uma igreja, o que foi feito. E assim, no ano da graça de 1815
as obras foram concluídas, e no dia 13 de junho do mesmo ano, Santo
Antônio foi entronizado e elevado à condição de padroeiro da povoação
nascente.
Durante cem anos consecutivos, o nome do querido
taumaturgo esteve ligado à toponímia queimadense. O arraial passa a
chamar-se Santo Antônio das Queimadas. A freguesia em 1842 foi criada
com o mesmo nome, e a vila, em 1884, apenas intercalou um qualificativo
delicado, talvez inspirado pelo romantismo de quem o sugeriu, sendo por
lei denominada Vila Bela de Santo Antônio das Queimadas, até que, em
1915, por amor à simplificação , cometeram uma violência: eliminaram o
nome do padroeiro do nome do município, que hoje é somente Queimadas,
tornando-se, deste modo, anódino e inexpressivo.
A mutilação
desnecessária afetou um século de história municipal. Não conseguiu,
porém, arrefecer a fé das multidões de devotos que se sucedem com o
perpassar dos tempos.
A igrejinha construída na propriedade de
Isabel Maria Guedes de Brito ainda hoje existe na sua forma original,
embora, vez por outra, procurem atentar contra as suas características
primitivas. Assenta-se no alto de uma suave colina, como que a dominar o
casario que se esparrama lá em baixo como a rezar a seus pés. No vale, à
sua direita, o Itapicuru desliza na sua eterna viagem para o mar
distante. A arquitetura é tosca. A nave acanhada, mas há um coro que se
defronta com o altar-mor desprovido de ornatos. Há um alpendre que a
cinge do lado esquerdo e na frente, com arcadas que se escancaram para a
paisagem circundante. Do lado direito, um cemitério se prolonga grudado
ao oitão, dando-lhe uma lúgubre aparência.
(...) Ainda hoje, como
ontem, como se será sempre, a centenária ermida acolherá os seus fiéis e
guardará entre as suas paredes brancas as promessas que Santo Antonio
vai convergindo em milagres pára exaltar a fé das almas sertanejas.
Nonato Marques, in Santo Antônio das Queimadas. pag.13,14 e 15.
A igreja passou por várias reformas e modificações em sua estrutura
original, numa delas o próprio Nonato Maques tentou intervir, porém, seu
intento foi malogrado, e a igreja passou por mudanças estruturais e
reformas.
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