terça-feira, 31 de janeiro de 2012

A FAZENDA E A CAPELA

                         Foto: Procissão rumo à centenária Igreja de Santo Antônio das Queimadas.


A FAZENDA E A CAPELA

À margem direita do rio Itapicuru-açu, em terras das incomensuráveis sesmarias da Casa da Ponte, existiam as fazendas “As Queimadas”, ambas pertencentes a D. Isabel Maria Guedes de Brito, herdeira de imensos territórios.
A denominação das fazendas sugere que ali se faziam grandes queimas de caatingas para botar roçados, hábito herdado de antigos índios e seguidos pelos colonizadores. As coivaras freqüentes acabaram por assinalar para sempre o sítio a que dera o nome, posteriormente, ao povoado, á freguesia, á vila, à cidade e ao município. Mas logo, que o povoamento das fazendas começou, facilitado pelas concessões que a proprietária fazia aos que nelas quisessem se fixar, assim que surgiu a capela em torno da qual se foi formando o arraial, a denominação Queimadas ganhou uma complementação, passando o lugarejo a ser conhecido como Santo Antônio das Queimadas. O topônimo se enriqueceu com o nome do santo que passou a fazer parte integrante da vida da localidade em todas as fases da sua história.
A invocação a Santo Antônio não se deu por acaso, segundo a lenda que se transmitiu de geração a geração com a força da fé das almas simples e crédulas. Dizem que a imagem apareceu inexplicavelmente, debaixo de uma árvore no local onde há 169 (hoje 197) anos se edificou a capelinha. A fazendeira tantas vezes a recolhesse, como a imagem sumia do seu rico nicho de jacarandá e reaparecia no mesmo lugar onde a encontraram pela primeira vez. O caso foi tomado como milagre e a notícia se espalhou pela redondeza, arrastando crentes que passavam a reverenciar o local da aparição. Não havia mais dúvida: Santo Antônio estava a indicar que ali devia ser construída uma igreja, o que foi feito. E assim, no ano da graça de 1815 as obras foram concluídas, e no dia 13 de junho do mesmo ano, Santo Antônio foi entronizado e elevado à condição de padroeiro da povoação nascente.
Durante cem anos consecutivos, o nome do querido taumaturgo esteve ligado à toponímia queimadense. O arraial passa a chamar-se Santo Antônio das Queimadas. A freguesia em 1842 foi criada com o mesmo nome, e a vila, em 1884, apenas intercalou um qualificativo delicado, talvez inspirado pelo romantismo de quem o sugeriu, sendo por lei denominada Vila Bela de Santo Antônio das Queimadas, até que, em 1915, por amor à simplificação , cometeram uma violência: eliminaram o nome do padroeiro do nome do município, que hoje é somente Queimadas, tornando-se, deste modo, anódino e inexpressivo.
A mutilação desnecessária afetou um século de história municipal. Não conseguiu, porém, arrefecer a fé das multidões de devotos que se sucedem com o perpassar dos tempos.
A igrejinha construída na propriedade de Isabel Maria Guedes de Brito ainda hoje existe na sua forma original, embora, vez por outra, procurem atentar contra as suas características primitivas. Assenta-se no alto de uma suave colina, como que a dominar o casario que se esparrama lá em baixo como a rezar a seus pés. No vale, à sua direita, o Itapicuru desliza na sua eterna viagem para o mar distante. A arquitetura é tosca. A nave acanhada, mas há um coro que se defronta com o altar-mor desprovido de ornatos. Há um alpendre que a cinge do lado esquerdo e na frente, com arcadas que se escancaram para a paisagem circundante. Do lado direito, um cemitério se prolonga grudado ao oitão, dando-lhe uma lúgubre aparência.
(...) Ainda hoje, como ontem, como se será sempre, a centenária ermida acolherá os seus fiéis e guardará entre as suas paredes brancas as promessas que Santo Antonio vai convergindo em milagres pára exaltar a fé das almas sertanejas.

Nonato Marques, in Santo Antônio das Queimadas. pag.13,14 e 15.


A igreja passou por várias reformas e modificações em sua estrutura original, numa delas o próprio Nonato Maques tentou intervir, porém, seu intento foi malogrado, e a igreja passou por mudanças estruturais e reformas.

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