terça-feira, 31 de janeiro de 2012

O PROCESSO DE SANTO ANTÔNIO DAS QUEIMADAS

  Foto: Imagem de Santo Antônio Localizada no contorno que dá entrada à cidade de Queimadas- Bahia.

O PROCESSO DE SANTO ANTÔNIO DAS QUEIMADAS ( Século XIX)

O processo, a prisão e condenação de Santo Antônio das Queimadas pela justiça da época. é fato histórico absolutamente verídico. Apesar disso, não foi possível aos pesquisadores encontrar elementos comprobatórios desse episódio, em virtude de não se saber do paradeiro dos documentos formadores desse famoso processo condenatório. Há controvérsias a respeito: uns dizem que o julgamento se deu na extinta comarca de Água Fria; outros, que o júri teria ocorrido em Cachoeira.

COMO SE CONTA A HISTÓRIA


Muitas crônicas foram escritas tratando deste assunto, mas todas elas baseadas em informações orais hauridas em tradição secular. Em resumo dizem o seguinte: D. Izabel Maria Guedes de Brito, abastada proprietária da Fazenda "As Queimadas", tornou-se fervorosa devota de Santo Antônio desde o dia em que uma pequena imagem de madeira, de apenas 45 cm de altura, apareceu debaixo de uma árvore que alguns dizem ter sido uma quixabeira, no alto de uma colina que domina a paisagem de um extenso trecho do vale do Itapicuru. A imagem, recolhida com todo carinho, desapareceu por três vezes consecutivas do nicho da piedosa senhora para reaparecer sempre no mesmo lugar onde fora encontrada. Nesse vai e vem, diz a lenda que por lá passaram uns missionários capuchinhos que, ao tomarem conhecimento do estranho fato- tido e havido por milagre- aconselharam que no local exato do sagrado aparecimento deveria ser construída uma igreja consagrada ao santo e que a localidade, dali por diante, o teria como seu padroeiro e passaria a se chamar Santo Antônio das Queimadas.
Assim foi feito. A igreja foi construída e se tornou alvo de romarias e peregrinações dos sertanejos das redondezas que faziam e pagavam promessas ao santo milagroso. Tudo corria ás mol maravilhas sob a proteção de Santo Antônio. Um povoado começa a se formar à margem direita do rio Itapicuru. Pouco a pouco, uma casinha hoje, outra amanhã, o lugarzinho ia crescendo com a devoção e se animando com o pouso e passagem de vaqueiros e tropeiros que demandavam os sertões distantes de Jacobina e do São Francisco. E foi indo assim até que um dia - cuja data ninguém sabe mais- um crime de morte aconteceu e mudou por completo toda a face da história.
Numa noite de louvação a Santo Antônio, um homem fora assassinado e o corpo encontrado no adro da igreja. O crime fora atribuído a um escravo que havia fugido sem que jamais se soubesse seu paradeiro.
Quando isso aconteceu, Santo Antônio já se achava na posse de todos os bens que lhe foram legados por D. Izabel Maria Guedes de Brito. As terras, a gadaria, os escravos, tosso esse cabedal já pertencia ao santo e era administrado pela freguesia de Santana do Tucano, a cuja jurisdição eclesiástica a capela de Santo Antônio das Queimadas estava subordinada.
Por uma drástica lei do período colonial que então vigorava e que era muito respeitada naqueles sertões, o senhor era responsável pelos delitos e danos causados por seus escravos, caso estes não fossem entregues à ação da justiça.
Po0r força dessa lei, Santo Antônio, que era o senhor, foi responsabilizado pelo crime cometido pelo seus escravo foragido.

A PRISÃO DE SANTO ANTÔNIO


Impossibilitado de apresentar o verdadeiro criminoso, Santo Antônio foi preso e conduzido amarrado no lombo de um burro para ser julgado em Àgua Fria, então cabeça de Comarca.
De nada valeram os rogos, as preces, as promessas, as procissões, as ameaças dos moradores de queimadas que tentaram reagir, mas que nada puderam fazer contra os poderosos agentes da justiça. Só lhes restaram as imprecações contra os duros homens da lei sobre os quais haveraim de cair os castigos dos céus.
Santo Antônio venceu uma distância de 160 km de estradas até ser encarcerado no quarto da forca da cadeia de Água Fria, onde teria que aguardar julgamento.

SANTO ANTÔNIO RESPONDE A JÚRI E É CONDENADO

O processo se arrastou por muito tempo. O julgamento foi longo. Santo Antônio teve que responder a júri e, para isso, a pequena imagem foi colocada no banco dos réus. Simbolicamente, ali estava o insigne português.
De acordo com pesquisa feita, sabe-se que a imagem participou, pelo menos, de duas audiências. Teve defensor e duas testemunhas da apresentação da prisão foram ouvidas.
Proferida a sentença, Santo Antônio foi condenado. Os seus bens, sofreram confisco e foram levados a hasta pública ao correr do martelo, tendo sido arrematante o ascendente do coronel Francisco de Paula Araújo Britto, de Ihambupe.
Santo Antônio foi despojado de tudo que possuia. Não lhe restou sequer um palmo de terra em todo municipio de Queimadas.
Muito tempo depois, uma questão surgiu a propósito da posse das terras confiscadas. O coronel Vicente Ferreira da Silva negou-se a pagar os foros cobrados pelos herdeiros do arrematante, sob a alegação de que as terras em causa pertenciam a Santo Antônio. Funcionaram como advogados; a favor de Santo Antônio, o Dr. Raul Alves, e pela famóloa Britto, o Dr. Ponciano de Oliveira. O Tribunal deu ganho de causa aos herdeiros, tendo Santo Antônio perdido em definitivo as propriedades de que fora possuidor. Vicente Ferreira da Silva foi condenado a pagar as custas do processo, conforme se poderá ver
pelo teor de um documento existente no Instituto Geográfico da Bahia.


Fonte: Nonato Marques. Santo Antônio das Queimadas. pag. 93/94


Nenhum comentário:

Postar um comentário