Foto: Cel. Moreira César.
A EXPEDIÇÃO DE MOREIRA CÉSAR CHEGA A QUEIMADAS 08-02-1897
As notícias desses desastres se espalharam pelos sertões e pelo país
inteiro cuja honra diziam que estava sendo ultrajada por um punhado de
jagunços e penitentes. Era preciso e urgente exterminar o foco místico e
rebelde de Canudos e, para isso, uma terceira expedição, desta vez mais
aguerrida e mais numerosa, deveria ser enviada para o teatro das
operações nas caatingas. E assim se organizou a chamada Expedição
Moreira César.
No dia 8 de fevereiro de 1897, os apitos dos trens
anunciavam a chegada das tropas. E a modesta vila sertaneja foi
novamente sacudida com os toques metálicos de clarins, com a percussão
dos tambores marciais, com ordens autoritárias de comando, com o
colorido das fardas militares, com o desembarque de 1300 combatentes.
A escassa população da vila assistia a tudo isso apavorada e
boquiaberta. Ali estavam chegando: o Batalhão de Moreira César - 0 7º de
Infantaria - ora sob o comando do Major Rafael Augusto da Cunha Matos;
uma bateria sob o comando do capitão José Agostinho Salomão da Rocha; um
esquadrão do 9º de cavalaria, comandado pelo capitão Pedreira Franco; o
16° com 28 oficiais e 290 praças; o 33º com 140 soldados; o 9º de
Infantaria do Coronel Pedro Nunes Tamarindo; pequenos contingentes da
polícia baiana. E Queimadas se transformou numa verdadeira praça de
guerra. Por toda parte regorgitavam soldados. Tropas de burros chegavam
trazendo mantimentos e material bélico. As boiadas arrastavam os cascos
pelas estradas. Era um movimento enorme, um verdadeiro tumulto, pois a
expedição estava com pressa de arrasar Canudos o mais rápido possível.
Ao chegar em Queimadas, Moreira César, informado de algumas supostas
indisciplinas, mandou levar os acusados para uma lagoa que fica no
caminho da Jacobina e ali foram açoitados e mortos. É por isso que a
lagoa, ainda hoje se chama de Lagoa do Soldado. Contam, também que ao
saber da existência de alguns feridos e doentes da expedição anterior no
hospital improvisado na igreja de Santo Antônio, mandou prevení-los de
que os que não estivessem em condições de com ele marchar para Canudos
seriam sumariamente fuzilados. Isso fez com que muitos se levantassem e
fossem se arrastando morrer na estrada.
Moreira César fora precedido
pela sua fama sinistra de violento e sanguinário. Passou a ser chamado
de Corta-Cabeça. Para os fanáticos ele era o Anti-Cristo de que falava o
Conselheiro.
Logo que os preparativos se completaram, Moreira César
deu ordem de partida. e uma extensa coluna que se estendia desde a
estação da estrada-de-ferro até o rio Itapicuru se moveu como se fôra
uma serpende descomunal prestes a desferir o bote premeditado. Atrás da
coluna iam o comboio dos animais de carga e os carros que conduziam os
canhões, enquanto cerca de duzentos bois trotavam pela estrada tangidos
pelos voluntários da polícia. houve uma parada em Contendas. Prosseguiu a
tropa para Serra Branca, tendo sido acompanhada por Francisco Lantyer.
Após breve descanso seguiu para Tanquinho onde fez alto para pernoite.
No dia seguinte pela manhã a soldadesca se pôs novamente em marcha
chegando em Cansanção ao meio-dia, conforme informação de José Ambrósio
Modesto e Domingos Manoel de Jesus, fundadores e moradores do local.
Moreira César prosseguiu para Monte Santo e daí investiu com o
propósito anunciado de tomar Canudos de assalto. Deu-se o tremendo
desastre com
todas as consequências já por demais conhecidas.
Fonte: (Nonato Marques. Santo Antônio das Queimadas. pag. 106/107)
A
professora Anfrísia Santiago, criteriosa pesquisadora, ouvira, em
Salvador, que D. Alzira de Freitas, viúva do oficial médico Alfredo de
Freitas, irmão do jurista e parlamentar José Augusto de Freitas,
estivera, de luto fechado na gare da estrada de ferro, por ocasião da
partida de Moreira César para Queimadas (1897).
Dissera, então, entre lágrimas: “Irás, mas não voltarás”. O esposo fora uma das vítimas do coronel Moreira César, em Santa Catarina. Aquelas palavras teriam sido uma praga ou um anúncio do que ia acontecer?
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