quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

POESIA DA PROF. NEUMA- MUSICADA PELO CANTOR JOSIEL.


POESIA DA PROF. NEUMA E MUSICADA PELO CANTOR E COMPOSITOR JOSIEL- CLIP EDITADO NO TRACK STUDIO - QUEIMADAS- BAHIA

VÍDEO DOCUMENTÁRIO- SANTO ANTÔNIO DAS QUEIMADAS DO PROF. MARCOS MURILO VARJÃO.



VÍDEO DOCUMENTÁRIO PRODUZIDO EM 2009 PELO PROF. MARCOS MURILO. OLIVEIRA VARJÃO E EDITADAO NO TRACK STUDIO. PARTE 1.


VÍDEO DOCUMENTÁRIO PRODUZIDO EM 2009 PELO PROF. MARCOS MURILO. OLIVEIRA VARJÃO E EDITADAO NO TRACK STUDIO. PARTE 2.




CORDEL STO. ANTÔNIO DAS QUEIMADAS- PROF. MARCOS MURILO VARJÃO


CORDEL DE SANTO ANTÔNIO DAS QUEIMADAS

( Marcos Murilo O. Varjão.)


EMBRENHADAS NOS SERTÕES DOS TOCÓS
DUAS FAZENDAS AQUI SE INSTALARAM
AS QUEIMADAS AS DENOMINARAM
DEVIDO AS COIVARAS DOS ÍNDIOS
QUE PRIMORDIALMENTE
AQUI CHEGARAM.

D. ISABEL MARIA GUEDES
HERDEIRA DA CASA DA PONTE
FIXOU-SE NESSAS TERRAS
A CONTEMPLAR TODOS OS ENCANTOS
QUE EXISTEM NESSES RECANTOS
O RIO SUMIR NO HORIZONTE

CERTO DIA SANTO ANTÔNIO
POR AQUI APARECEU
EMBAIXO DE UMA ÁRVORE
A IMAGEM ESTAVA LÁ
ERA UM SANTO DE MADEIRA
QUE FOI POSTO NUM ALTAR

O SANTO RESOLVEU RETORNAR
SEGUNDO CONTA A LENDA
AO LOCAL ORIGINAL
POR TRÊS VEZES O FATO OCORREU
CAUSANDO REBULIÇO E MISTÉRIO
NO PEQUENO ARRAIAL

A NOTÍCIA SE ESPALHOU
POR ESTE SERTÃO AFORA
MUITA GENTE PEREGRINOU
E AQUI VEIO SAUDAR
AO SANTO ANTÔNIO MILAGREIRO
PARA SUAS GRAÇAS ALCANÇAR

AQUI PASSANDO UNS PADRES CAPUCHINHOS
POR ESSES SERTÕES AO DEUS DARÁ
SE INFORMARAM DO BOATO
SOBRE O SANTO POPULAR
E CONVECERAM A ISABEL
ERGUER UMA IGREJA NO LUGAR

POR FORÇA DA FÉ DA NOBRE SENHORA
A SANTO ANTÔNIO AGRADECIDA
COM REVERÊNCIA AO MONGE SANTO
A CAPELA FOI CONSTRUÍDA
E O SANTO PADROEIRO
ASSIM ENTROU EM NOSSAS VIDAS

O ANO DE 1815
FOI A DATA INAUGURAL
SANTO ANTÔNIO DAS QUEIMADAS
FOI REBATIZADO O LOCAL
QUE CRESCEU DE POVOADO
SE FORMANDO EM ARRAIAL

NUMA TREZENA ANTONINA
NUMA TARDE FESTIVA E BELA
UM ESCRAVO COMETEU UM CRIME
BEM EM FRENTE À CAPELA
ASSASSINOU A SANGUE FRIO
UM CERTO HOMEM DEPOIS FUGIU

EM VIRTUDE DA LEI ANTIGA
QUE NA ÉPOCA VIGORAVA
SANTO ANTÔNIO DAS QUEIMADAS
TEVE QUE AO CRIME RESPONDER
PELO FATO DO ESCRAVO
ÀS SUAS POSSES PERTENCER

FOI LEVADO AOS TRIBUNAIS
JULGADO E CONDENADO
PERDEU TODOS OS BENS
O SANTO PROCESSADO
ACUSADO E HUMILHADO
PARA A CELA FOI LEVADO

MUITA EUFORIA SE CAUSOU
O SERTANEJO FERVOROSO
INCRÉDULO SE ABALOU
NÃO PÔDE REVERTER
A DURA LEI
QUE SE APLICOU

SANTO ANTÔNIO DAS QUEIMADAS
POR MUITOS FATOS PASSOU
ATÉ AS TROPAS DE CANUDOS
AQUI DESEMBARCOU
NA ANTIGA ESTAÇÃO DE TREM
SERVINDO AO OPRESSOR

DE FREGUESIA PASSOU A VILA
QUE O RIO REVOLTO CARREGOU
NUMA ENCHENTE VIOLENTA
QUASE NADA AQUI SOBROU
SÓ O CHALÉ FICOU INTACTO
NEM A IGREJA SUPORTOU

O VILAREJO FOI RECONSTRUÍDO
NUM LOCAL MAIS ELEVADO
NOVAS CASAS, NOVOS COMÉRCIOS
NOVO RUMO FOI TRAÇADO
DEMOROU UM LONGO TEMPO
PARA TER TUDO ORGANIZADO

JA BEIRANDO OS ANOS TRINTA
UM TRISTE FATO ACONTECEU
ERA VÉSPERA DE NATAL
LAMPIÃO APARECEU
COM SEUS CABRAS COMANDADOS
UM FORTE CRIME COMETEU

MATOU SETE SOLDADOS
A TRÔCO DE UM ÓDIO
DE CARÁTER PESSOAL
PRATICOU O TRISTE ATO
QUE HOJE SERVE DE RELATO
EM FRENTE AO QUARTEL POLICIAL

SAQUEOU TODO O COMÉRCIO
DO DEPÓSITO AO BAZAR
CORTOU A REDE DE TELÉGRAFO
PRA NINGUEM SE COMUNICAR
JANTOU NUMA POUSADA
E NUM BAILE FOI DANÇAR

QUEIMADAS CARECE DE MUITAS COISAS
UMA CIDADE SECULAR DO SERTÃO
O DESENVOLVIMENTO CAMINHOU LENTO
DA SAÚDE À EDUCAÇÃO
ELA SOFRE PELO COMODISMO
DE NOSSA POPULAÇÃO

PORÉM NÃO FALTA NESSA TERRA
GENTE DE BOM CORAÇÃO
SERTANEJOS ALEGRES E GUERREIROS
QUE ALMEJAM A TRANSFORMAÇÃO
QUE PRECISAM DE INJEÇÃO DE ÃNIMO
PARA MUDAR A SITUAÇÃO

GENTE DE FÉ, GENTE HONESTA
AQUI TEMOS DE MONTÃO
DA PROFESSORA A DOMÉSTICA
DO HUMILDE AO BARÃO
DO LAVRADOR AO DOUTOR
DO PATRÃO AO PEÃO

O QUE EMPERROU O CRESCIMENTO
FOI A TAL CORRUPÇÃO
QUE IMPEDIU O PROGRESSO
LESANDO O CIDADÃO
QUE SOFRE AS CONSEQUÊNCIAS
DAS CONTAS SEM PRESTAÇÃO

RESULTADO DE DESGOVERNO
E AÇÕES FRAUDULENTAS
SÃO AS CAUSAS PRINCIPAIS
DA CHAMADA INADIMPLÊNCIA
OS PROJETOS NUNCA CHEGAM
NOS FALTANDO PACIÊNCIA

QUEIMADAS URGENTE CLAMA
A ESSE POVO DO SERTÃO
NÃO EXISTE SALVADOR DA PÁTRIA
ESTAMOS EM ANO DE ELEIÇÃO
O VOTO É UMA FORTE ARMA
NAS MÃOS DO CIDADÃO

PRECISAMOS DE UMA SOCIEDADE
FORTE, UNIDA E ORGANIZADA
COM GENTE POLITIZADA
É UMA UNIÃO NECESSÁRIA
PARA TIRAR DO ATRASO
ESSA CIDADE CENTENÁRIA

QUEIMADENSES UNI-VOS
PARAFRASEANDO MARX EM PANFLETO
LUTEMOS POR UMA NOVA QUEIMADAS
EXIGINDO NOSSOS DIREITOS
PELOS TRÊS PILARES BÁSICOS
ÉTICA, JUSTIÇA E RESPEITO.

FIM.

QUEIMADAS-BAHIA, 29 DE JANEIRO DE 2012.

ENERGIA ELÉTRICA

                         Foto: Antiga Usina elétrica movida a motor a diesel na rua Alan Kardec.


COOPERATIVA DE ENERGIA ELÉTRICA DA CIDADE DE QUEIMADAS

Em 2 de agosto de 1942, foi fundada a Cooperativa de Energia Elétrica da Cidade de Queimadas, cujo objetivo principal era o de instalar uma usina geradora de eletricidade movida a gasogênio para fornecimento de energia elétrica aos associados, aos serviços de iluminação pública de sua sede e aos estabelecimentos públicos. Foram os seguintes os sócios-fundadores da Cooperativa:

Antonio Oliveira, Francisco de Oliveira Moura, Umbelino Joaquim de Santana, Martinho Santana, Juvenal Fernandes Silva, José de Oliveira Costa, André martins da Silva, Hemeterio Ferreira de Gois, Cícero Ribeiro Fernandes, José Ribeiro Pedreira, Maynard José de Sousa, Manoel Marques da Silva, Agenor Marcelino Araujo, Argemiro Carlos de Araujo, Antonio Nascimento dos Santos, José Francisco do Nascimento, Antonio Marques da Silva, Hildebrando Vieira de Araujo, Bento Coelho Souza, João Lantyer de Araújo Cajahyba, José Bezerra Filho, João Graciliano de Queiroz, Dr. Reinaldo Vicente de Sales, Osvaldo Lantyer de Araújo Cajahyba, Cícero Campos, Deusdedith Barbosa de Souza, Hermínio Ferreira de Araujo, Alberto Abreu, João Maurício de Andrade, Jeconias Lopes da Cunha, Luiz Sant'Anna, Francisco Rodrigues, Maria Damasceno Miranda, Synesio Moura e Silva, Joel Dias da Silva, João Luiz de Araújo, Pedro Moreira da Fonseca, Archias Souza, Antonio Ignácio de Araujo, João Afonso da Silva, Sancho Santos, Avelina Silva, Hermogenes Gonçalves Primo, Abílio Belo da Silva, Antonio Simões Esteves, Dr. Zenon Campos, Bernardo Lino da Costa, Antonio Francisco da Silva, Antonio Pimentel, Pedro Andrade, José Terranova Filho, Elias Marques da Silva, Durval Marques e Firmino Araújo.

Foi eleito primeiro presidente da Cooperativa, Antonio Nascimento dos Santos, então prefeito do Município. O Regimento Interno da entidade foi aprovado em sessão da Assembléia Geral realizada em 15 de novembro de 1942. Foi a Primeira Cooperativa no gênero instalada no Estado da Bahia, tendo servido de modelo para outras que se fundaram com amesma finalidade.
Sancho Santos, jornalista e um apaixonado pela sua terra natal, em notas enviadas para este livro recorda o evento. Segundo ele, Antonio Nascimento dos Santos (na intimidade tratado por Maninho) estava realmente com a idéia fixa de implantar um serviço de energia elétrica em Queimadas e, para isso, se dispunha a transpor todos os obstáculos. Acontece, porém, que o problema era muito complexo e o município não tinha recursos para fazer face ao empreendimento pretendido. Na busca de uma solução para o problema, surgiu a sugestão de se criar uma cooperativa, Diz Sancho Santos: a sugestão foi aceita por unanimidade de votos dos presentes à primeira reunião que para este fim fora realizada. A primeira inscrição de quotas foi muito baixa, o que provocou outra reunião com a finalidade de aumentar o capital. Ninguém se recusou, mas mesmo assim, o montante não era o bastante para tamanho empreendimento. A prefeitura muito pobre quase nada podia fazer. O que havia era boa vontade de todos. E assim as dificuldades foram superadas e o serviço de energia elétrica foi implantado, tendo sido a respectiva inauguração um dos acontecimentos sociais mais importantes na vida de Queimadas.


Fonte: ( Nonato marques. Santo antonio das Queimadas. pag. 226/27 )



 
A energia elétrica foi inaugurada em Queimadas na Gestão de João Ferreira da Cruz (1976-1983).

ESTAÇÃO DE TREM


DESCASO PATRIMONIAL HISTÓRICO.

A estação de Queimadas foi aberta em 1886 na E. F. Bahia ao São
Francisco. Nessa estação, muito nova na época, desembarcaram diversas expedições, em 1896 e 1897, para combater os revoltosos de Antonio Conselheiro em Canudos, não muito longe dali. A estação era o ponto mais próximo ao famoso arraial. No início, a chegada da expedição foi recebida com festas pela população da cidade na estação; na terceira delas, entretanto, a derrota e morte de Moreira César, considerado um comandante imbatível, trouxe a fuga da população da cidade. A guerra acabou em outubro, com o massacre dos revoltosos; Queimadas era uma cidade deserta. No jornal Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro, em 17/10/1897, após o término da luta, lê-se: "Queimadas, aliás Vila Bela de Santo Antonio das Queimadas, é uma povoação modesta, construída à margem do Itapicuru-Açu, que serve à população. Tem duzentas casas de péssima construção e proporções acanhadas, dispostas em ruas muito irregulares. Além da estação da linha férrea, tem a estação telegráfica e a agência do correio, únicas repartições civis, e menos ainda quando o agente do correio abandonar a agência, porque, diz ele, hoje que tem muito serviço tiraram-lhe uma desgraçada gratificação de 10$000 por mês. A população da vila retirou-se toda desde o início das operações em Canudos. Queimadas é hoje um vasto quartel. Todas as casas estão ocupadas por militares: tem o quartel-general, a casa do comando da praça, a secretaria, o depósito de artigos bélicos, depósito de forragens, o hospital de sangue, farmácia militar dirigida pelo capitão Isaias de Mello, quartel de guarnição, e tudo mais é aocupado por forças fixas e a seguirem para o campo de ação". A guerra acabou, e a vida continuou para Queimadas, cuja estação fechou nos anos 1970. Em 14 de outubro de 2009, o prédio da estação desabou. Populares imediatamente começaram a levar material.
Já se passaram mais de dois anos desde o ocorrido e até agora nada foi feito para recuperar o valioso prédio histórico.

(Fontes: Roosevelt Reis, 2008; Pedro Oliveira; www.interiordabahia.com.br; www.calilanoticias.com; Cyro Deocleciano R. Pessoa Jr.: Estradas de Ferro do Brazil, 1886; Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, edição de 1897; Nonato Marques: Uma Porta para Canudos, 1997; Guia Geral das Estradas de Ferro do Brasil, 1960; Guia Levi, 1932-79; Mapa - acervo R. M. Giesbrecht)


 Foto: Primeira estação ferroviária de Queimadas em 1908...preparada para receber o então presidente do Brasil, Afonso Pena..


                               Foto: Trem de passageiros década de 80.

O CHALÉ

                               Foto: O Chalé nos anos 1930.


O CHALÉ

Na primeira década do século vinte o Coronel Francisco Lantyer de Araújo Cajahyba construiu uma casa na Vila Bela de Santo Antônio das Queimadas, na margem direita do rio Itapicuru, onde eram realizadas as feiras semanais e as festividades cívicas.
Entre o final de dezembro de 1910 e junho de 1911 duas grandes enchentes destruíram a maioria das casas da Vila, reconstruída em outro local.
A solidez da construção salvou-a, mas, deixou-a insulada pelos escombros da Vila Bela, cujo espaço, com o tempo, foi ocupado por pastos, pomares e jardins, com que o Chalé se beneficiou: ficou na fímbria dessa área verde, tendo ao fundo pequena lagoa. Na seca seu leito rasga-se em fendas, greta-se. Quando recebe água, revela-se um santuário devida e alegria. A vegetação brota das entranhas da terra, colorindo-a com o verde das folhagens, atraindo pássaros, sapos, rãs, peixes e outros animais como raposas e sariguês.
O chalé aflorava por entre o colorido das folhas e das flores. Era amplo, com dois salões, sala de espera, copa, sete quartos, três varandas, quintais, jardins e outras dependências.
Suas paredes externas eram pintadas na cor rosa e as janelas em azul com molduras brancas, frontispício com platibanda, encimado com “abacaxis”, cinco janelas dois portões de ferro. Ornamentam-no desenhos em alto relevo pintados de branco e os telhados laterais com lambrequins de bonitos recortes.
Seu telhado era de duas águas, por isso ficou conhecido como chalé.
Arejado, recebia luz solar o dia inteiro, seu interior era mobiliado com sobriedade e harmonia.
Nas paredes internas meu Pai pintou arabescos e, abaixo dos peitoris das janelas, paisagens com motivos variados.
Na parede central da sala de visitas ficava a efígie do Coração de Jesus, ladeada por dois outros quadros com retratos de Francisco Lantyer, sua esposa Joaquina, sua cunhada Isabel e o marido Irineu.
Em um canto da sala, no alto, havia um grande quadro com fotos das professoras formadas pelo Colégio dos Perdões do ano de 1923 e seus mestres. A mobília da sala de visitas era um conjunto austríaco de palhinha.
Em um dos quartos ficavam oratórios com imagens e quadros com estampas de ícones religiosos presos nas paredes. Era o “quarto dos santos”.
Em uma de suas dependências funcionava a Escola Monsenhor Tapiranga onde minha Mãe lecionava a meninos e meninas da primeira à quinta série primária.
Em outro salão ficavam a sala de jantar e a de estar.
De suas varandas avistava-se, no cimo de uma colina, o cemitério e a tricentenária capela erguida em louvor a Santo Antônio, padroeiro da vila, contornada por alpendres recortados em arcadas romanas. De outros ângulos viam-se as ruínas da igreja da Vila Velha.
Durante o dia ou à noite avistava-se o deslizar rumoroso de trens.
De madrugada ouvia-se o silvo distante e breve, anunciando sua chegada à estação. A locomotiva bufava fagulhas, fumaça e vapor, liberando, com chiados, o excesso acumulado em suas entranhas. Após curta parada, rompendo a escuridão, batia em retirada. Um apito longo e intenso assinalava o recomeço da marcha.
Às vezes a noite era tenebrosa com o bailado dos morcegos em vôos rasantes, o canto fúnebre do “rasga-mortalha” e o piar das corujas.
Em outros dias fazia-se romântica, quando a Lua apontava grandiosa no horizonte.
De lá ouvia-se também o repicar do sino da Igreja matriz, ora chamando os fiéis aos ofícios religiosos, ora, langorosamente, anunciando a morte de algum cristão.
Havia fartura de flores, sobressaindo o olor suave dos jasmins e das laranjeiras.
O Chalé tinha alma. Os que o habitavam transmitiam-lhe vida e felicidade.
Vejo-me com irmãos e primos, calças curtas, cabeleiras bastas ao vento, correndo pelos avarandados, pelos jardins e pastos, trepando em árvores ou arreliando-se.
Na “quarta dimensão da memória” vejo-me dialogando com Papai, aprendendo com seu exemplo e com suas lições. Revejo-o como homem austero, digno, tranquilo, ponderado e elegante. Ao seu lado tia Nira, com a aura de paz e harmonia, cordata e amiga, pronta a ouvir e aconselhar.
Na penumbra do passado surgem sombras de duas mulheres amigas, companheiras na longa caminhada, dedicadas, desinteressadamente, ao nosso bem estar: Sinha Bela e Mundinha, que muito ajudaram em
nossa criação.
Mais distante no tempo, mas presente na memória, está minha Mãe.
Lembrança sofrida e constante em minha vida.
O pensamento voa distante no tempo, no espaço, e mergulha no
silêncio sombrio e nostálgico do passado.
O Chalé emoldura estas recordações e emoções.
_____________________

( Antonio Lantyer)


JUAZEIRO DA PEDRA - NONATO MARQUES


 JUAZEIRO DA PEDRA

Junto ao rio, bem no alto do granito
- como um fantasma verde e solitário -
um velho juazeiro centenário
está sempre a apontar para o infinito.

Raízes longas nos rachões enterra
atravessando o coração da pedra
e no sol e na chuva vive e medra
na paisagem estival da minha terra.

Símbolo vegetal da natureza
ele mostra que a vida com beleza
até na pedra bruta desabrocha.

Assim também o amor deixa raízes
e pode, sem saber, tornar felizes,
as almas duras como a rocha.

(Nonato Marques. In Santo Antonio Das Queimadas. pag. 79.)

A VELHA IGREJA - NONATO MARQUES



Ruínas da antiga igreja de Vila Bella de Santo Antonio das Queimadas que foi destruída pela grande enchente de 1911 (foto). abaixo poema do saudoso Nonato Marques.

A VELHA IGREJA

Nas velhas ruínas desta velha igreja,
Por entre escombros quase centenários,
A evocação faz com que nela eu veja
Os sinos a tocar nos campanários...

Faz com que eu veja tudo novamente:
A nave, o altar, os ícones sagrados
E ouço o côro e a música dolente
Dos hinos e dos cãnticos passados.

Nestas ruínas de pedra e cal habita
Com a saudade de tantas coisas tantas
O espírito de uma época proscrita.

Como no muro das lamentações
Curvo a cabeça sobre as pedras santas
Cedendo ao peso das recordações...

(Nonato Marques, in Santo Antonio das Queimadas. pag.131)

FAZENDA MORRINHOS

Foto: Lavadeira de cara branca. Faz. Morrinhos.( Sergio Cedraz)


RESERVA PARTICULAR DO PATRIMÔNIO NATURAL FAZENDA MORRINHOS

Inicialmente REFÚGIO DE ANIMAIS SILVESTRES, reconhecido pelo extinto IBDF, Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal - através da Portaria nº 247/P de 04/06/1984 - Processo IBDF-DE/BA nº 1.650/84, a RESERVA PARTICULAR DO PATRIMÔNIO NATURAL FAZENDA MORRINHOS, foi criada pela Portaria do IBAMA nº 71 de 20/09/2006 com base no Decreto nº 98.914 de 31/01/90, publicada no Diário Oficial da União, nº 182, de 21 de setembro de 2006, secção 1, página 109.Detalhe do tipo de vegetação da Reserva.

Localizada no semi-árido do nordeste da Bahia, situada no Distrito de Cel. Borges, antigo Riacho da Onça, município de Queimadas - Bahia - Brasil, distante 300Km da cidade do Salvador, Capital do Estado da Bahia e 25 Km da sede do município de Queimadas. Região inserida no polígono das secas nordestinas, sofre ano a ano os efeitos das estiagens. Não há regularidade na precipitação pluviométrica. A média é 600mm ao ano, variando de 191mm à 1.180mm. Mesmo com as intempéries da natureza, a caatinga é dona de uma vida sem limite. Busca, dentro do seu contexto os meios de sobrevida que, infelizmente, por razão do desmatamento, vêm perdendo os seus recursos.


 Cabeça de Frade (Melocactus zehntneri) Fazenda Morrinhos, Queimadas, Sertão, Nordeste, Bahia, Brasil.  Foto: Sérgio Cedraz

Fonte: http://www.sergiocedraz.com.br/Fotografo/paisagens/cacto-rocha-sertao-queimadas-bahia-brasil-581.html#joomimg



É formada de uma vegetação baixa, porém resistente, onde na época da seca perdem as fôlhas parecendo que tudo se acabou. No entanto, revitaliza-se com as chuvas que ocorrem em maior intensidade entre os meses de dezembro à fevereiro, fazendo do meio-ambiente da caatinga um espaço sem medida para a vida. A riqueza da flora vem com uma grande variedade de bromélias e cactos, servindo como reserva de alimento e água para os animais na época das secas. A caatinga cheira quando nas trovoadas. Cheira o alecrim junto com o cheiro do verde que brota de tudo que parecia não mais existir. Ver e viver a caatinga se faz em qualquer época do ano. Tanto na seca quanto nas chuvas ela é bela. Bela na forma, no volume, na cor, na textura enfim, no contexto do espaço do semi-árido nordestino. Rica na fauna e na flora, mas carente de políticas conservacionistas e sociais. Na Reserva vem sendo desenvolvidos trabalhos conservacionista com a fauna e a flora desde antes da sua criação, onde vem sendo obtido sucessos.

A fazenda Morrinhos, é de propriedade do Sr. José Juracy Pereira.

Fonte: http://www.rppnmorrinhos.arq.br/reserva.htm

JOEL AMÂNCIO DE SOUZA



Joel Amâncio de Souza

Nascido em Queimadas no ano de 1920. Filho de Manuel Amâncio de Souza e Jardilina Ferreira de Souza, sendo o segundo de seis irmãos: Celina, Celsina (falecida), Clemilda (falecida), João e Célia Amâncio de Souza.
Estando sua mãe grávida de sete meses, ouviu por três dias o choro do bebê ainda no ventre. No quarto dia, inesperadamente, deu á luz ao frágil garotinho que de tão pequeno precisava ser enrolado em algodão, já que nenhuma roupa cabia. O parto se deu com a ajuda de uma parteira na casa da família, construção na Av. Nonato Marques.
O menino batizado Joel com menos de uma semana foi dado como morto por não apresentar sinais vitais. Colocado em uma caixa de charutos estava sendo levado á capelinha de São José, onde eram enterradas as crianças, quando suspirou, ao que disseram: “Volta que o menino está vivo”, conta o próprio sorrindo.
Teve uma infância marcada pelos banhos de rios junto aos primos e pelos ataques de Lampião e seu bando à cidade.
Passado o tempo, aos 21 anos, Joel mudou-se para casa de parentes na capital baiana em busca de trabalho. Após uma semana de estadia na cidade empregou-se na empresa fabricante de cigarros Souza Cruz onde atuava no setor de serviços gerais.
Em pleno carnaval de 1942, estando na Rua Chile, expôs-se a uma forte chuva adoecendo, motivo pelo qual resolveu retornar à terra natal pedindo dispensa da empresa onde já trabalhava a mais de um ano.
Aqui chegou em 8 de maio de 1942 bastante enfermo, tendo ficado acamado por quatro longos anos nos quais sofreu de paludismo e reumatismo. Em 1947, já curado passou a compor a orquestra da cidade, onde tocava pandeiro.
Em 1950 foi convidado para trabalhar na construção do açude de Pedra Riscada, povoado de Cansanção, sendo responsável pela folha de pagamento dos demais funcionários, tempo em que conheceu na praça da feira local uma moça bem jovem chamada Davina. Em poucos meses rumou para Itiúba onde estava sendo construído o açude estadual para exercer a mesma função de pontador. Ainda no mesmo ano participou por quatro meses da construção de outro açude em Lagoa do Mari, Monte Santo.
Terminado este período, já com trinta anos, voltou para Queimadas, reassumindo o pandeiro na Orquestra Jaden Recreio. No mesmo ano reencontrou Davina que aqui veio morar. Os dois passaram a dividir o mesmo teto, só depois oficializando a união.
O casal passou a residir na Rua Professora Lourdes Lantyer local de nascimento dos quatro filhos que tiveram: Marlúcio, Eliete, Joelma e Jorge França de Souza. Tempo em que trabalhava como cobrador do serviço de luz, que era produzida por gerador e fornecida pela Prefeitura Municipal. Em meados de 1953 foi nomeado por Nonato Marques, então Secretário da Agricultura, para executar os serviços de jardinagem da Sementeira.
Em 1954 envolveu-se na campanha política de Mário Santana que pleiteava a administração pública do município. Tendo o mesmo vencido as eleições ofertou a Joel um cargo na Prefeitura. No ano seguinte deixou a Sementeira passando a laborar na coletoria, imbuído de arrecadar o imposto de indulto de produção, função na qual se aposentou 32 anos depois.
Em 1963, em pleno mandato de Analdino Andrade como prefeito, Joel Amâncio ocupou pela primeira vez uma cadeira na câmara municipal dos vereadores. Foi reeleito ainda mais cinco vezes, sendo presidente da casa por três mandatos, chegando inclusive a ocupar a prefeitura em razão da ausência temporária dos responsáveis.
Neste longo período como representante do povo foi responsável pela aprovação de inúmeros importantes projetos em benefício da cidade, como por exemplo, calçamento de ruas, construção do posto de saúde (hoje hospital Edson Silva) e do prédio da Câmara (antes um açougue), além de obras na zona rural e povoados que compõe o território de Queimadas.
Segundo O Sr. Joel, a política praticada naquele tempo nada tem haver com a dos dias atuais. “A vida política não é difícil. Depende do comportamento de cada um. Tem pessoas que enganam muito. Naquela época os prefeitos trabalhavam. Não havia esta corrupção. Os políticos eram mais preocupados com o bem estar do município. Os vereadores eram atuantes, apesar de não remunerados”, diz o mesmo que entrou com uma ação na justiça buscando receber retroativamente pelos serviços prestados. “Hoje não existe nada. Ninguém faz nada”, conclui desiludido.
Queimadas, na visão do ex-vereador, era uma cidade muito boa, “tinha banda de música, o povo era mais unido, mais tudo do que hoje. No meu tempo a escola preparava, hoje só tem conversa, o ensino é ruim. Os jovens não conheciam droga, jogavam futebol, era da escola para o campo. Eram mais respeitadores, agora eles passam mangando dos mais velhos. As mulheres? Meu Deus do céu. Só iam para as festas, eventos familiares de qualidade, acompanhadas dos pais ou responsáveis. Os vestidos chegavam ao tornozelo. Nem os joelhos ficavam expostos. Os banhos de rio eram tomados de roupa. Elas estavam sempre bem arrumadas, impecáveis. Os rapazes namoravam de longe. Ao contrário da devassidão dos tempos modernos. Não usavam bermuda e chinelo. O usual era calça, paletó e chapéu diariamente”, conta.
Seu Joel lembra que havia famílias tradicionais em Queimadas, e cita alguns chefes: Humbelino Santana, Anfilófio Teixeira, João Lantyer e Elias Marques. Conta que as regras morais eram rígidas. “A moça que perdia a virgindade sem que fosse casada estava literalmente perdida. Era isolada, banida da sociedade. Não sendo aceitas nas reuniões sociais, festas, nem mesmo podendo freqüentar a escola”. Escola que por sinal segregava homens e mulheres. Havia apenas três estabelecimentos de ensino na cidade. Na Praça da Bandeira funcionava a escola da Profª Ediméia destinada às meninas. Enquanto que as outras duas, da profª Lourdes no Chalé e da Profª Ceci abrigava os meninos. “As meninas estão tornando-se mulheres antes do tempo. Perderam a inocência. O mundo atual é muito diferente de antigamente. Dormíamos com as janelas abertas, não se usava grade. A violência é maior do que na época de Lampião”.
Seu Joel viveu o tempo em que não existia geladeira, TV, nem rádio em Queimadas, usava-se pote. “As pessoas liam mais. O aspecto da cidade atualmente é melhor, a meu ver, sendo esta melhoria devido à iniciativa particular”. Queimadas na descrição do ex-vereador resumia-se à Praça da Bandeira, outra praça mais embaixo e um campo de futebol que deu lugar à feira livre. Existia ainda o Alto da Jacobina com poucas casas e só. “Hoje vê-se muitos prédios.” No entanto considera grave a atual falta de oportunidade e trabalho que acomete os jovens que sem ideal e limite sucumbem às drogas e à prostituição. “O pior é essa juventude sem trabalho, sem oportunidade. As meninas em sua maioria perdidas e o vício do Crack. Não consigo ver solução para isso. Essa juventude aceita o pior. A devassidão, a falta de ocupação, de limites e a desestruturação familiar os leva a isso. Os jovens não respeitam mais os pais. Eu nesta idade não conheço droga. Não se falava nesse assunto no meu tempo. Não existia isso por aqui”.
As lembranças do ancião refletem uma dinâmica diferente da conhecida. “Na rua da estação, ao final da Itapicuru, numa casa de esquina tinha um cabaré, local onde os rapazes iniciavam a vida sexual, conheciam a vida mundana através das conversas que tinham com as “Donas”, mulheres que em sua maioria tinham sido casadas e que separadas viam-se socialmente excluídas terminando no meretrício. Elas ficavam expostas na janela á espera de fregueses, eram proibidas de circular livremente pelas ruas e principalmente de freqüentar a estação, pois era costume das moças da sociedade, muito bem trajadas, para lá dirigirem-se todas as tardes a fim de ver os trens e seus passageiros.
Morador da Praça da Bandeira há mais de trinta anos, Sr. Joel no auge dos seus respeitáveis 90 anos, tendo sido um exemplo de homem público, cumpridor do seu dever e fiel às próprias convicções afirma ser um amante da vida e das mulheres. “Não tem coisa melhor do que viver. É assim, eu com essa idade estou aqui com você contando histórias. Isso é bom demais. Agora, tem coisas, principalmente na época de hoje, que são horríveis. Com a idade o sono desaparece, o apetite diminui, as pessoas se distanciam, nos ofendem mais, não são respeitosas. Mas não importa, porque já vivi muito e os que se comportam desta maneira não sabem do que sei e nem se chegam lá. A gente sente aquele mal estar, vai perdendo a auto-estima e fica desmotivado. As coisas mudam, perdemos o querer. Já tive medo de morrer, hoje bem pouco.” Parou por um momento, disparando em seguida: “Eu gostaria de saber se dói. Se não sentir dor é tranqüilo. Deve haver um lugar onde a alma permaneça, pois acredito que a morte é só física. A alma é eterna. Afinal nós estamos aqui conversando e isso requer mais do que a matéria. Não sei se podemos ver o que acontece aqui e não acredito em reencarnação. Acredito na existência de Deus. Olho para o céu e vendo uma estrela oro. Sempre me questiono porque não vivemos mais. A gente vem, gosta, depois desgosta e morre. Eu gosto muito, mas me sinto cansado.”
Com a construção da nova Câmara Municipal de Vereadores, inaugurada em junho deste ano, o salão nobre da mesma, até então nomeada Joel Amâncio de Souza mudou de nome passando a homenagear o Senhor Humberto Belo da Silva.

Fonte: http://www.queimadasfm.com.br/qfm/2011/04/07/joel-amancio-de-souza-2/